Trabalhar com projetos - O processo de sair do senso comum e construir relações de escuta (PARTE 2)
- Ana Barbara

- 27 de set. de 2020
- 2 min de leitura
Hoje, eu tenho os projetos da unidade como um fio que conecta a turma com a identidade da coletiva da escola. Os projetos da minha atual unidade são baseados em concepções da escola comunitária e das necessidades das crianças. Dessa forma, as professoras têm liberdade para desenvolver os projetos da unidade e os projetos da turma a partir das demandas das crianças. Vejo isso como um grande avanço.

Não me identifico com qualquer formação ou orientação que prescreve ou propõe métodos sobre como fazer meu trabalho. Eu tenho afinidade com os estudos que me colocam para refletir sobre meus caminhos, que fazem duvidar e questionar o curso atual e, ao conhecer outras experiências, outros olhares e concepções, me encorajam a experimentar e ousar fazer outro percurso.
Assim como já falei sobre a carta de intenções, eu também encaro o desdobramento de um projeto como o processo de criação de artistas. Não há um trabalho igual ao outro. Embora tenhamos um planejamento inicial, no processo de criação ocorrem deslocamentos, os objetivos mudam, descobre-se um novo material ou uma nova informação. Por vezes, há um período de bloqueio criativo e é preciso dar um tempo... Todos esses fatos são hipotéticos, porém muito comuns de acontecer. No final, olhamos para as memórias que foram construídas e percebemos que o percurso vivido não se compara a qualquer produto final.
Penso na importância de haver uma estrutura organizacional. É importante não confundir a abertura para o inusitado com desprezo por organização. Um bom projeto precisa de produção bem elaborada para que caiba na organização do cotidiano da professora e da unidade. Desenvolver um projeto que acolhe o inusitado é deixa-lo aberto para novidades, é partir de um elemento disparador, mas ir alimentando-o com as demandas cotidianas, com os encantamentos, com as decepções, com as descobertas, com os erros, sobretudo com a ESCUTA.

Mas a dúvida sobre como compor o projeto pode ainda ser latente. Se não é uma coleção de atividades, se não deve vir pronto, se parte do inusitado, mas precisa de organização, como levar propostas? Pense que você está narrando uma pesquisa junto com as crianças. Existe um assunto que as crianças querem explorar e você está alimentando a curiosidade delas com novos elementos que vão formando uma “cadeia temática”. O seu projeto são os registos dessa narrativa.
Finalizo esse texto com um trecho do texto De como ser professor sem dar aulas na escola da infância do professor Danilo Russo*:
“O que eu vou concretamente propor, fazer, dizer “amanhã” na sala, vai depender muito do que acontecerá amanhã ou do que aconteceu hoje. Vai depender muito da leitura que faço desta fase da vida do grupo e dos meus relacionamentos com eles: ou seja, de tudo o que o adulto e o professor que eu sou não podem deixar de entender, do momento em que estão imersos, profundamente, no meio de meninos e meninas (...). Não vai depender nada do plano que poderia ter escrito no lugar deste texto.”
*REVISTA ELETRÔNICA DE EDUCAÇÃO. São Carlos (SP): Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2007- . Publicação contínua. ISSN 1982-7199. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br






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