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Bebês e crianças estão fazendo arte? O lugar da invenção e de habitar o estético

Atualizado: 17 de abr. de 2023

Atualmente, estou empenhada na construção de um material orientador para educadoras/es da educação infantil sobre o uso de um kit pedagógico com materiais que podemos identificar como artísticos. Ao escrever, tenho me dedicado a uma longa pesquisa sobre a composição dos materiais e sua funcionalidade, mas também abro espaço para falar da experiência e das possibilidades que esses materiais proporcionam para bebês e crianças.


Não posso deixar de discutir o lugar da arte, busco referências, pois temos muita gente boa falando sobre isso. Há um tempo, quero trazer essa reflexão para o blog, então pego emprestadas algumas palavras do Gandhy Piorski para construir a linha de pensamento.


Durante o II Seminário Literatura de Berço (2023), o pesquisador diz o seguinte “desconfio se as crianças fazem arte, as crianças não se preocupam em produzir nada”. Essas palavras tocaram fundo em meus pensamentos porque vieram intensificar minha reflexão.




O quanto estamos pesquisando sobre arte, linguagens das artes, arte contemporânea, performance, artes visuais, etc quando chamamos bebês e crianças de pequenos artistas ou dizemos que estão fazendo arte? Não defendo aqui que professoras de educação infantil devam ter formação específica em artes, mas defendo a pesquisa de toda e qualquer linguagem que atravessa nossos fazeres junto aos bebês e crianças.


Para além da necessidade de estudar e compreender melhor as linguagens, ao confundir as pesquisas de bebês e crianças com “fazer arte”, vejo um equívoco conceitual sobre educação, sobre infância e sobre nossos direitos essenciais. Acessar elementos da arte e da cultura é um direito de todas/os, bem como acessar materiais e experimentá-los. Produzir arte ou ser artista deve ser uma escolha. Quando aprendemos a escrever, automaticamente nos tornamos escritoras/es? Quando brincamos com bola, nos tornamos jogadores de vôlei ou futebol? Por que não podemos aceitar que bebês e crianças estão experimentando materialidades ou criando conexões com a arte, ao invés de colocar-lhes essa responsabilidade de produzir arte sem terem de fato escolhido isso?


Há uma linha tênue nessa observação, que fica entre assumir que bebês e crianças não estão fazendo arte, ao experienciar materiais, porém, corremos o perigo de colocar a arte como um estado de criação super elaborado e inacessível.



Ela não constrói o estético, ela está no estético” outra provocação de Piorski. Pensar que a criança habita o estético é um caminho para dar significado á condição das linguagens poéticas no planejamento pedagógico e abrir espaço para imaginário infantil fluir como lugar de criação e invenção. O papel da/o adulta/o nesse espaço que habitam a criança e a estética é daquela/e alarga as condições de conexão e experimentação. É quem pesquisa antes de oferecer qualquer material e tem olhar atento aos desvios, aos deslocamentos, aos abandonos, á parte que falta, a necessidade de continuidade, entre tantos outros eventos que podem ocorrer nessa conexão de bebês e crianças com o sensível.

 
 
 

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ANA BARBARA

Professora de educação infantil, fotógrafa e idealizadora do blog

Os textos que escrevo nessa área partem da minha experiência na educação infantil, minhas pesquisas e diálogos com outras educadoras.

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