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Trabalhar com projetos - O processo de sair do senso comum e construir relações de escuta (PARTE 1)

Como o texto ficou um pouco longo, eu dividi em duas partes. A primeira é esta e a segunda será publicada na próxima quinzena.


O que eu entendo hoje por projetos é muito diferente do que eu pensei e fiz durante algum tempo. Honestamente, por muitas vezes, me questionei sobre o que é realmente trabalhar com projetos e se a forma como eu conduzia a minha prática era um projeto.


Sempre vi os projetos serem propostos com um tema, uma sequência de atividades programadas e um trabalho de fechamento. Nunca fez parte da minha prática trabalhar com sequências prontas, mas, há alguns anos, trabalhei com projeto de leitura com quatro turmas que tive, por quatro anos. Embora eles tenham partido da mesma ideia inicial e até apresentassem um padrão de estrutura, em cada turma eles tiveram diferentes caminhos. Acho que as minhas dúvidas sempre me orientaram mais do que minhas certezas, e por isso eu não conseguia trabalhar com a repetição, mesmo antes de estudar e pensar tudo o que eu penso hoje, eu já não tinha sequências ou modelos prontos.


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Ter vivido isso me trouxe inquietação o suficiente para pesquisar e entender melhor como se trabalha de verdade com projetos. Participei de grupos de estudos, li livros e conversei com mais colegas para saber como era o trabalho delas e fui fazendo reflexões sobre como romper com os intermináveis projetos de leitura.


Sou formada em Letras e amo livros ilustrados. Tenho uma ligação muito forte com essa literatura, o que me faz estudar o universo do livro para a infância e querer aprender sempre mais. Então por que os projetos de leitura estavam me saturando? Porque eles partiam do mesmo padrão. Porque eles não partiam das perguntas das crianças ou de algum despertar que eu tive naquele ano para esse campo de pesquisa. A escuta era muito menor do que, mais tarde, eu entendi que ela precisa ser.


Quando eu expandi meu olhar para as crianças, comecei a construir os projetos com elas e para elas. Hoje entendo que o projeto só nasce onde tem um ambiente propício á escuta e á pesquisa. O projeto não predetermina nem define caminhos, ele abre portas. O projeto não acontece dentro de uma sequência rígida em momentos específicos, ele é contínuo e acontece no cotidiano. O projeto prevê iniciativa da criança, liberdade de escolha e reflexão constante. Ele não precisa ser cheio de atividades, ele precisa ser verdadeiro, precisa conectar as crianças com pesquisas, com desafios, com suas hipóteses, sua imaginação e sua criatividade. E pode ser muito simples!


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A criança precisa participar do projeto, o que é diferente de receber propostas. Os caminhos de um projeto aparecem conforme a voz da criança é ouvida, você não começa um projeto sabendo como ele termina, como será no mês que vem. Você pode ter indícios para onde ele está caminhando, isso faz parte do planejamento e da observação, mas não funciona ser determinista. Isso também foi um dos pontos que me levou a refletir: projetos que tinham um percurso programado, mas que eu nunca consegui cumprir (isso acontecia muito com os projetos da unidade). E por que eu não conseguia cumprir? Por que a vida flui de forma diferente das programações engessadas. A criança vive o tempo real e elas expressam o que querem, mesmo se você insistir em não ouvir. Por seguir o ritmo das crianças, eu desvirtuava os projetos. Parece contraditório... mas foi importante acontecer.


Continua...

 
 
 

1 comentário


Renilda Maria dos Santos
24 de ago. de 2020

Pertinente esse relato sobre Projetos porque eu passava pelas mesmas angústias , de tudo vir pronto e eu me questionava sempre sobre a intencionalidade. Com os estudos e trocas com companheiras docentes, tenho conseguido melhorar a interação do grupo no projeto tendo o olhar para escuta e falas dos pequenos . As propostas fluem naturalmente sem perder o sentido tanto dos campos quanto dos interesses dos pequenos !

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ANA BARBARA

Professora de educação infantil, fotógrafa e idealizadora do blog

Os textos que escrevo nessa área partem da minha experiência na educação infantil, minhas pesquisas e diálogos com outras educadoras.

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