Materiais na educação infantil – a difícil conciliação entre qualidade, necessidade e quantidade.
- Ana Barbara

- 6 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de dez. de 2020
As listas de materiais para o ano letivo... O sonho das professoras e o pesadelo da gestão escolar. Muitas ideias, muitos pedidos, muitas novidades (ou não), mas pouca verba, pouco espaço e, ás vezes, pouco tempo pra utilizar tudo.

Precisamos mesmo de tantos materiais? Por que guardar tanto? Qual o limite entre guardar e acumular? Será que a verba não é suficiente? São muitas perguntas que eu me faço quando reflito sobre essa questão, mas penso que podemos começar por uma: Quais as escolhas que temos feito?
Minhas listas de materiais são imensas. Não tenho problema em falar sobre isso. E isso acontece porque vejo poucas possibilidades nos materiais tradicionais que costumam ocupar as prateleiras do almoxarifado e as caixas de brinquedos. Penso que existe uma repetição de materiais que nem sempre dialogam com as necessidades e a aprendizagem das crianças. Na busca por quantidade, perdemos diversidade de materialidades e experiências.
Minha lista é gigante porque tenho evitado pedir guache, folha de sulfite, giz de cera, massinha de modelar... (E o polêmico E.V.A.?! – acredito que esse material pode assumir outras funções como proteger uma peça ou ser apoio para algum outro material, mas não acredito em seu potencial criativo). Peço giz pastel, carvão vegetal, papel vegetal, acetato, farinhas coloridas, argila profissional, estecas, pinceis de aquarela, lanternas, lupas... A qualidade e a potencialidade dos materiais são inegociáveis, não dá para substituir o papel de desenho por cartolina ou folha de sulfite, por exemplo, pois cada material tem características voltadas para determinado uso. Chamo atenção aqui para o estudo das materialidades, para a natureza e as propriedades de cada material.

Reconheço o esforço de gestores para contemplar tantos pedidos e nos últimos anos tem chegado até minha turma uma parcela interessante dos pedidos de minha lista. Mas no fundo, penso que a dinâmica precisa ser outra.
Primeiro, precisamos fazer um inventário do que temos, levantar as diferentes possibilidades que cada material oferece e quais as materialidades que se conectam com os percursos das crianças. Retomo aqui a importância do estudo dos materiais. Quantos tipos de papel há em uma papelaria? Como vamos escolher? Antes de solicitar, é preciso conhecer aquilo que você quer comprar e oferecer para as crianças.
Nós professoras somos pesquisadoras e isso quer dizer que é preciso um olhar atento ao que apresentamos. Isso é ter sensibilidade, atenção e responsabilidade com as aprendizagens das crianças. Sei que, muitas vezes, precisamos fazer adaptações por falta de recursos, confesso que tenho um grande incomodo com essa questão, há experiências que não podem ser simplesmente adaptadas, mudar o tipo de riscador, por exemplo, vai simplesmente alterar a experiência. Em situações como essa, precisamos fundamentar a importância dos nossos pedidos, se você não tem um estudo sobre o material, fica difícil argumentar porque é preciso investir determinado valor naquele recurso.
É importante fugir de certos estereótipos tipo “guache serve para trabalhar cores”. Não precisamos trabalhar cores porque elas estão em todos os lugares, precisamos abordar as relações cromáticas na natureza, na vida, nos espaços. As tintas são um recurso dentro de um estudo intencional.
Penso que é preciso uma reflexão profunda e um debate crítico sobre materiais, seus usos e suas potencialidades. Penso que esse assunto precisa ser abordado em espaços formativos. Materiais não são para decorar a mostra cultural no fim do ano, eles servem para as crianças viverem experiências e pesquisas enriquecedoras o ano inteiro.







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